Nossa consciência, lugar onde
Deus habita, nos inquieta; ainda assim, muitas vezes, fazemos o mal.
Isso é resultado de nossa fraqueza ou de nossa livre escolha?
Dizer ‘não’ ao pecado é uma luta
presente na vida de todo cristão que leva a sério sua caminhada. É real
perceber que sinais antecedem o ato de pecar, pois somos acometidos
pelos desejos e pelas paixões que não controlamos ou que escolhemos não
controlar. Para que o ato seja pecaminoso precisa haver
um processo consciente, uma decisão. Se não é consciente, ou seja, se a
pessoa não tem a capacidade de escolher entre fazer ou não, isso não
caracteriza pecado. Nesse contexto, existe uma realidade que permeia
todas as situações de pecado: a concupiscência.
No Catecismo da Igreja Católica, lê-se
que a concupiscência “desregra as faculdades morais do homem e, sem ser
nenhuma falta em si mesmo, inclina o homem a cometer pecado” (CIC 2515).
Ou seja, é um ato da razão que antecede o pecar, podemos dizer que é
“planejar” o pecado.
Quantas vezes nos encontramos em
situações diante das quais percebemos, claramente, que estamos a ponto
de cometer um ato inconsequente que resultará em pecado? Um homem que se
sente atraído por uma mulher casada, por exemplo, ao perceber que pode
ser correspondido, insiste, mesmo sabendo que deve evitar, pois aquilo
lhe agrada de alguma forma. Há dentro do ser humano esse alerta, mas,
nós, muitas vezes, o ignoramos, passamos por cima dele, agimos e
pecamos. Nossa consciência, lugar onde Deus habita, nos inquieta diante
dessas circunstâncias, mas o homem não enxerga ou finge que não vê e
prossegue com sua inclinação ao mal.
Basta olharmos para nosso último pecado e
refletirmos um pouco. Vejamos o que foi gerado dentro de nós antes do
pecado. Sabíamos que a situação nos levaria ao erro; mesmo assim,
prosseguimos. Deixamo-nos seduzir por fraqueza ou, simplesmente, pecamos por livre escolha?
Caim convida seu irmão a ir ao
campo – aqui vemos que ele pensou no que fazer, trata-se de um ato
premeditado, o primeiro homicídio relatado pela Bíblia. Esse fato também
quer nos ensinar que em nós há essa postura de planejar o pecado e
enganar Deus; muitas vezes, enganamos a nós mesmos, numa atitude
consciente e premeditada.
Nossa leitura termina com uma frase que cria em nós um impacto se pararmos e refletirmos sobre ela: “A ti vai seu desejo, mas tu deves dominá-lo” (Gn 4,7).
Essa frase de Deus dirigida a Caim revela que o Senhor sabia da
intenção do coração dele, tanto que, se lermos todo o versículo sete,
onde Deus fala ao nosso personagem, veremos que Ele vê a sua aparência,
sinal claro de que “o pecado o estava espreitando à porta” (cf. Gn 4,7).
Sim, o ser humano dá sinais claros de que vai pecar; nesses sinais,
temos a oportunidade de lutar contra o pecado, de firmar nosso coração
em Deus e declarar: “PHN! Por hoje não, por hoje não vou pecar”. Esses
sinais nos dão a chance de escolher entre bem e o mal.
Então, encontraremos uma chave na luta
pela santidade, uma arma que o próprio Deus nos deu. Como vemos no
Catecismo da Igreja Católica (CIC), a concupiscência não caracteriza o
pecado em si mesmo, é o intervalo entre o estímulo que recebemos e a
nossa reação. Assim, podemos dizer que, neste intervalo, podemos nos controlar e deter nossa reação. Portanto, é possível dominar o desejo, dominar a concupiscência!
Não fomos criados para ser escravizados por nossos desejos, e precisamos nos convencer de que sozinhos não os podemos dominar.
Deus coloca pessoas ao nosso lado, coloca leituras, palestras e muito
mais à nossa disposição para que cresçamos no autoconhecimento e também
no dia a dia. Ele nos dá a possibilidade de escolher o que devemos fazer diante dos estímulos externos que recebemos.
E uma capela, uma igreja, é o lugar ideal para derramarmos todas as
nossas angústias, para estarmos diante de Jesus e pedir a Ele o socorro
necessário, pois o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza (cf. Rom
8,26). Isso requer treino, isso requer esforço e luta!
Deus nos abençoe nesta batalha pela santidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário